Saturday 17 January 2015

Critica sobre a dança no Brasil!

Do blog: "A Dança é a Minha Revolução",  por Verônica Pimenta (jornalista e artista de dança).

UMA COREOLOGIA SOBRE INTENSIDADES



“Prancha Coreográfica – Estudo Para Intensidades” foi um dos espetáculos de dança vencedores do Prêmio Fundação Clóvis Salgado de Estímulo às Artes Cênicas 2013, juntamente com “Rasante”, de Sérgio Penna. “Prancha Coreográfica” constitui-se, como o nome indica, num estudo, tem um espírito da criação conceitual. “A pesquisa trata do desenvolvimento de uma coreografia a partir de uma partitura pré-determinada verificando as seguintes questões: como três corpos com distintas memórias e hábitos decodificam a mesma informação? Como o tempo interfere na percepção da ação? Como a música se apropria de uma partitura coreográfica para produzir música?”.
Os três corpos em questão são os bailarinos Cris Oliveira, que concebeu o espetáculo, Tuca Pinheiro e a belga Dorothé Depeauw, radicada em Belo Horizonte desde 2012. Com a integralidade necessária, eles respondem de modo rico aos questionamentos colocados previamente. Os três trazem vários elementos surpresa, respostas motoras ágeis e singulares. Entre os vários momentos inesperados do espetáculo, está a participação corporal do músico Matthias Koole. A execução ao vivo da música é, por si só, uma forma de interagir com os bailarinos. Essa experiência já traz um efeito positivo para a obra, já que muitos espetáculos da pós-modernidade tendem a buscar pouco o recurso de integração entre corpo e som, seja por uma questão estética ou de economia nos meios de produção.
Uma importante questão se coloca ao espectador através dessa experiência: para que serve a notação em dança? O bailarino a tem, logicamente, como recurso de memória. Mas a notação, no caso específico de “Prancha Coreográfica”, está mais parecida com os processos compositivos à Merce Cunningham (1919-2009) e do seu programa de computador. A notação neste contexto serve como base de raciocínio para o dançar, não está preocupada em representar nada mais além do que o próprio corpo em movimento. São questões de metalinguagem, por um lado distanciadas de reflexões sociopolíticas, mas que por outro contribuem para a transformação e para a reflexividade da própria dança enquanto campo de conhecimento. A metodologia de “Prancha Coreográfica” une as facetas da improvisação e da composição, mostrando que elas, na realidade, não são incompatíveis.
A prancha, neste caso, é uma notação prévia ao trabalho de criação dos bailarinos. As ações correspondem ao estudo das seguintes intensidades: “determinado”, “exitar (exultante)”, “abandono”, “encantamento” e “cotidiano”.  Como vimos, uma das perguntas fundamentais de “Prancha Coreográfica” está direcionada para a relação entre os corpos dos bailarinos e o elemento sonoro.  Mas é bom destacar: a pergunta “como a música se apropria de uma partitura coreográfica para produzir música” só é possível num contexto em que essas duas artes estão separadas por produções e pressupostos intelectuais. Há momentos em que temos a impressão de que o guitarrista Matthias Koole, mesmo não se deslocando no espaço, já constitui o corpo coreográfico. E quando já estamos a nos esquecer dessa expectativa antes criada, ele de fato deixa o seu cantinho e ocupa a arena do Teatro João Ceschiatti (onde assistimos ao espetáculo).
O trabalho de Cris Oliveira também nos pareceu tecer aproximações conceituais de Rudolf Von Laban em sua Coreologia. O termo, em diversas perspectivas, está relacionado com preocupações metodológicas. Não é somente a forma do movimento que interessa à Coreologia, mas especialmente os princípios criadores do mesmo, assim como os “conteúdos” de ordem não-motora, como nos explica Júlio Mota no artigo “Rudolf Von Laban, a coreologia e os estudos coreológicos”. No caso de “Prancha Coreográfica”, a preocupação metodológica com a notação e com o registro das intensidades (ou energias) corporais compõe uma perspectiva prático-teórica. Assim como os preceitos que estão na raiz da Coreologia de Laban, o artista cumpre, simultaneamente, o papel de dançar e pensar sobre a dança. Sua busca é o método. O resultado da pesquisa “Prancha Coreográfica” foi compilado no formato de espetáculo. Por todo o exposto, acreditamos que não caberia uma crítica formal sobre o mesmo.
Referências: MOTA, JÚLIO. Rudolf Von Laban, a coreologia e os estudos coreológicos. Disponível em:http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revteatro/article/viewFile/6404/4426. Acesso em 02/06/2–14. MUNIZ, Zilá. Rupturas e procedimentos na dança pós-moderna. Disponível em:http://proxy.furb.br/ojs_teste/index.php/oteatrotranscende/article/view/2688. Acesso em 02/06/2–14. Foto: Divulgação/Prancha Coreográfica

Crédito da foto: Divulgação do espetáculo

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